quarta-feira, 15 de outubro de 2008

Maré Alta de 15/10/2008

Democraciazinha IV

A passada semana foi fértil naquilo que menos desprestigia a classe política e que afasta ainda mais os cidadãos da vida política activa. Perante a denúncia do PS de que “estará em curso a criação de uma ou várias empresas municipais, destinadas prioritariamente a integrar nos conselhos de administração actuais vereadores que não venham a fazer parte da lista da Coligação nas Autárquicas de 2009” Armindo Costa desmentiu dizendo “Eu não criei nem criarei empresas municipais, não tenho a mínima intenção de o fazer” e continuou dizendo que o PS “é um perigo á solta…”. Precisamente no mesmo dia em que estas afirmações saíram na imprensa local, Armindo Costa, na reunião da Câmara Municipal do passado dia nove, veio afirmar que está a ser analisada a possibilidade de serem criadas empresas municipais em V. N. de Famalicão.

Este episódio é, de facto, “o fim da picada”. É o fim da réstia de alguma dignidade e credibilidade que esta coligação no poder eventualmente ainda tivesse. A arrogância deu lugar ao completo descrédito de uma governação que definha lenta e penosamente até daqui a um ano.
Sabemos, pela experiência de empresas municipais em muitos concelhos pelo país fora, que esta forma de gestão de serviços municipais serve apenas os interesses de algumas pessoas que acabam por ser colocadas na administração dessas empresas segundo favores ou interesses políticos. Essas mesmas pessoas são quase sempre principescamente pagas, enquanto as mesmas empresas normalmente acabam por ter elevados prejuízos.

Perante isto, faz todo o sentido pensar-se que a criação de empresas municipais no nosso concelho e nesta altura, terá como principal objectivo manter vereadores ou assessores que eventualmente não o possam continuar a ser, com idênticos padrões remuneratórios. È legítimo que qualquer famalicense minimamente atento faça esta interpretação. Mais grave ainda foi a lamentável postura de um presidente de Câmara que faz acusações deste nível e que se contradiz no dia seguinte, fazendo com que a credibilidade dos políticos e da própria Câmara Municipal acabe por ser posta em causa.

Numa altura em que já se começa a falar em nomes de eventuais candidatos(as) e até já há sondagens on-line tentando saber quem será a pessoa que pensam ser o(a) melhor candidato(a) de cada partido, Armindo Costa fica numa posição muito complicada. Sabe-se que a coligação PSD/PP terá poucas hipóteses de ganhar sem a imagem populista de Armindo Costa. Mais importante que discutir nomes e de um presidencialismo provinciano como o que temos agora, é importante discutir o futuro do nosso concelho de uma forma plural e equilibrada, aplicando na prática o conceito da Democracia Participativa em que toda a população seja chamada a participar activamente no futuro colectivo e que o desenvolvimento seja efectivamente aquilo que o povo deseja, em vez de um qualquer programa feito por duas ou três pessoas de um qualquer partido e que todos consideram cegamente como sendo o melhor.


Crónica da autoria de José Luís Araújo, publicada no Jornal Opinião Pública em 15/10/2008

.
_____________________________________________________________________________