A efeméride da vergonha
Completam-se agora cinco anos sobre a cimeira da guerra nas Lages e a consequente invasão do Iraque pelas tropas americanas e suas aliadas. Este acontecimento viria a dar origem à mais ignóbil guerra de que há registo. À revelia que todos os tratados, acordos e convenções, um país foi bombardeado, invadido e saqueado tendo por base meros indícios da remota possibilidade de existirem armas de destruição massiva capazes de fazerem frente às usadas pelos Estados Unidos. Veio a provar-se que afinal nunca existiram essas tão apregoadas armas, mas ficou também provado, o que é ainda mais grave, que as supostas provas apresentadas foram todas forjadas. No total foram quase mil as mentiras da administração Bush sobre a guerra no Iraque.
Alguns argumentarão que esta guerra se justificaria por ter deposto um regime sanguinário que durante muitos anos oprimiu todos aqueles que de alguma maneira se desalinhassem do regime. Então a administração americana que levou para a morte milhares dos seus cidadãos e matou milhares de iraquianos e afegãos inocentes não é igualmente sanguinária? Não se conhecem regimes onde os direitos humanos são sistematicamente violados, como a China por exemplo?
Mas aquilo que mais me revolta é que os verdadeiros responsáveis por esta guerra sangrenta continuam confortavelmente sentados nas cadeiras do poder ou passeando-se como que protegidos por uma preocupante impunidade. Com que legitimidade se poderá condenar os regimes onde se cometem atrocidades se os que deveriam ser o exemplo ficam impunes? Onde estão as entidades que supostamente deveriam ser o garante dos direitos dos povos?
São muitas perguntas que a grande maioria das pessoas se vai esquecendo de colocar, com a mesma velocidade com que a comunicação social vai deixando de divulgar a angustiante estatística dos mortos no caos em que o Iraque invadido se tornou.
Mas como se a guerra por si só não fosse suficiente, os americanos ainda ousaram cometer as suas atrocidades nas cadeias que criaram para torturar e humilhar todos aqueles entenderam, sem direito a advogados ou qualquer outro tipo de defesa. O caso mais flagrante é Guantanamo, de onde apenas se sabe que muitos prisioneiros são torturados sem se conhecer qualquer acusação ou sequer em que condições sobrevivem.
Revoltante é a comunidade internacional calar-se perante tudo isto, certamente temendo a força das armas contra si. Fecham os olhos aos voos que a CIA fez por quase todo o mundo, numa arrepiante subserviência a que ninguém pode ficar indiferente.
Incomoda-nos esta sensação de incapacidade perante tão poderosos interesses, mas deve fazer-nos ser mais exigente com quem nos governa, no país e nas autarquias, para que os abusos não fiquem esquecidos ou impunes.