0 candidato do Bloco de Esquerda, Francisco Louçã, afirma que o problema do têxtil esbarra na falta de capacidade e inteligência dos empresários. Louça falava durante uma acção de campanha à porta da Riopele, empresa que apontou como exemplo na capacidade de inovar, apesar da redução do número de trabalhadores.
O problema do têxtil é o problema da classe empresarial". A observação é feita por Francisco Louçã, candidato do Bloco de Esquerda, na semana passada numa acção de campanha à entrada da Riopele, adiantando que a crise que o sector atravessa encontra alguma explicação na «falta de capacidade de gestão, de inteligência e de inovação da entidade patronal», aliada a uma ausência de política de fiscalização do Estado que não permita que determinadas empresas «que receberam incentivos, apoios ou benefícios fiscais, fechem as portas» e deixem os «trabalhadores privados dos seus direitos».
«É por isso que no têxtil há tantas falências fraudulentas de empresas que vão para outras localidades, com as máquinas a desaparecer durante a noite, para abrir uma nova empresa com o mesmo proprietário, deixando as dívidas para uma casa vazia que ficou para trás, o que é inaceitável», declarou Louçã, aos jornalistas, depois de contactar com os trabalhadores da empresa de Pousada de Saramagos.
Ressalvando que esse não era o caso da Riopele, até porque momentos antes fora confrontado com comentários abonatórios de alguns operários têxteis, Francisco Louçã lembrou, contudo, que aquela unidade tem vindo a reduzir de forma substancial o número de trabalhadores que já rondou os 5 mil e hoje não atinge sequer os 2 mil.
«Já aqui trabalho há 25 anos e não tenho nada a apontar à empresa», sustentou um dos operários com que a comitiva do BE - composta pelo cabeça de lista por Braga, Pedro Soares, e pelos candidatos famalicenses, Manuel Cunha, Adelino Mota e Manuela Monteiro - manteve um aceso diálogo.
Este trabalhador concorda com a política de dispensa dos funcionários mais antigos de modo a «dar lugar aos mais novos que andam à procura de emprego, permitindo que os mais velhos possam aproveitar os últimos anos para gozar um bocadinho da vida». Notando uma redução de encomendas, o funcionário diz que não é credível que a Riopele venha a encerrar as suas portas, muito menos acredita na deslocalização da sua linha de produção para a China como chegou a ser aventado.
Francisco Louçã partilha dessa opinião, salientando que uma empresa daquela envergadura não subsiste sem mão-de-obra qualificada. «Também não acredito que haja uma deslocalização da Riopele» referiu, apontando aquela unidade como um exemplo no contexto do sector têxtil e do vestuário pela sua capacidade em inovar. «Embora tenha dispensado muitas pessoas, é uma empresa aposta no emprego qualificado e continua a ter muitos postos de trabalho e a garantir o pagamento dos salários».
Aliás, o líder do Bloco de Esquerda defende o estabelecimento de regras em relação às deslocalizações através da implementação de mecanismos sancionatórios para os casos em que não se verifiquem razões ou motivos fortes para essa deslocalização. «Nesses casos deveria ser obrigatória a devolução dos subsídios e apoios públicos e municipais que foram concedidos. Uma empresa que está em Portugal tem uma dívida para com os trabalhadores, porque os seus resultos é o resultado das pessoas que lá trabalham e, portanto isso implica contratualizar a criação de emprego».
Louçã frisa que é pela qualificação que se cria postos de trabalho e «não pela desqualificação como muitas vezes os patrões do Vale do Ave vieram a entender ao longo dos anos e que foi o princípio da crise que leva à existência de 516 mil desempregados».
«Creio que o têxtil tem todas as condições para se desenvolverem Portugal, através da criação e capacidade de inovação», afirmou o candidato bloquista, salientando que o que falta em Portugal é uma política de rigor que impeça as falências fradulentas, não compreendendo como é que uma empresa com resultados positivos acaba por fechar as portas. «As falências fraudulentas é uma questão de crime e o crime trata-se na lei, verificando as contas bancárias dos administradores para se ter a certeza que essas falências ocorram nos termos legais e nunca quando uma empresa tinha resultados positivos ou quando alguém desvia encomendas para uma outra empresa subsidiária. Todas as formas de fraude são bem conhecidas e devem ser combatidas desse ponto de vista».
Salientando que o Vale do Ave «está muito mal», o candidato do BE defendeu o reforço do seu grupo parlamentar de modo a ter no Parlamento uma esquerda «determinada, capaz de responder ao problemas do trabalho deste distrito». Em declarações ao Entre Vilas, Louçã mostrou-se convicto na grande subida do BE nestas eleições, como atestam os últimos estudos de opinião, e manifestou alguma esperança na eleição de um representante pelo distrito de Braga.
In Entre Vilas (02-02-05)