Reagir às crises
Crise é a palavra que mais se ouve por todo o lado, desde há uns tempos a esta parte. Fala-se principalmente da crise económica e financeira por ser aquela que mais directamente afecta a vida de cada um de nós. Portugal está a braços com uma crise muito mais ggrave que a crise meramente económica, temos uma profunda crise de confiança nas instituições e consequentemente da democracia.
Um dos pilares do nosso sistema democrático é a Justiça, se os portugueses não tiverem plena confiança no funcionamento, eficácia e isenção do sistema democrático, tudo o resto fica vulnerável a todo o tipo de arbitrariedades e atropelos. Assistindo ao que se passa com a instabilidade causada com as pressões sobre magistrados e responsáveis pela investigação do caso Freeport, a casos como as recentes revelações de que ao fim de 8 anos não foi possível indiciar Mesquita Machado, apesar de haver evidentes manifestações de que os rendimentos declarados como autarca nunca poderiam ter permitido os luxos ostentados.
Sucedem-se por todo o país os casos em que políticos importantes e pessoas mais poderosas ou mediáticas acabam quase sempre por nunca serem formalmente acusadas, enquanto que com o cidadão comum isso raramente acontece. Como já aqui disse, parece que temos uma justiça para poderosos e outra para os outros.
A par da justiça, em relação a muitos outros sectores da nossa sociedade é manifesta a descrença e desconfiança por parte dos cidadãos. Desde as câmaras municipais onde os familiares, amigos e apoiantes políticos são colocados em lugares onde são pagos a peso de ouro enquanto outros porventura mais competentes são empurrados para um qualquer anexo. Temos também autarcas durante anos a fio em simples gestão corrente e desperdício de milhões de euros e que em ano de eleições se desdobram em apresentação de obras que irão ser pagas por futuras câmaras municipais, mas que servem agora para uma descarada e desonesta propaganda eleitoralista.
Perante este cenário, é urgente que toda a classe dominante no país, nomeadamente a política seja regenerada e que surja uma nova geração de homens e mulheres capazes de gerir os destinos do país, dos municípios e das freguesias sem a tentação do enriquecimento fácil e capazes de permanecer imunes às muitas formas de corrupção que minam e descredibilizam as nossas instituições. Esses homens e mulheres que se sentem capazes de edificar uma nova sociedade onde eleitores e eleitos se confundam nos objectivos e na postura, para que novamente possamos acreditar que as instituições existem para servir as populações e não para alguns se aproveitarem delas.
Infelizmente, muitas dessas pessoas com capacidade empreendedora e capazes de mobilizar as populações numa nova esperança, resignam-se e acabam por se acomodar perante o estado em que a sociedade está. É urgente que cada um(a) tenha a ousadia de avançar e empenhar-se na construção de uma nova sociedade mais justa, mais solidária, com mais rigor e sem corrupção.
Crónica publicada no Jornal Opinião Pública em 17/02/2009