domingo, 6 de março de 2005

Entrevista de Manuel Cunha ao Entre Vilas

Manuel Cunha fez parte da lista do Bloco de Esquerda (BE) por Braga nas últimas eleições legislativas, passados poucos dias do escrutínio eleitoral analisa os resultados obtidos pelo BE e pelas outras forças partidárias.



Que comentário lhe merece o resultado do escrutínio eleitoral do dia 20 de Fevereiro?

O resultado destas eleições foi sobretudo uma estrondosa derrota das forças de direita que governaram o país nos últimos anos. Foi o castigo merecido pelas políticas antisociais, pelo combate feito aos direitos dos trabalhadores, pela associação do país a uma guerra à revelia do direito internacional. Foi também o correr com a incompetência, com a hipocrisia do aproveitamento religioso, com o populismo das inaugurações de última hora, com o lançamento de "primeiras pedras" e muitos calhaus.

O BE ficou a 400 votos e eleger um representante para a AR. Apesar de não eleger um deputado o Bloco pode cantar vitória?

0 BE obteve um excelente resultado eleitoral no distrito, apesar de não ter sido eleito Pedro Soares que conquistou uma grande simpatia no meio. Em relação às últimas legislativas triplicamos os votos, portanto, este esforço eleitoral prova que a mensagem passou, que as nossas propostas são pertinentes. Os problemas do distrito de Braga também serão levados ao Parlamento através do grupo parlamentar do Bloco que agora está muito reforçado, fruto da confiança que os portugueses nele depositaram. Foi um grande passo para que o Bloco, que está em fase de crescimento, no futuro tenha eleitos pelo distrito de Braga.

Apesar disso, no distrito de Braga, a votação do Bloco não foi tão favorável como era de esperar. Não obstante a subida de votação, o BE continua a manter-se na quinta posição. O que falhou na estratégia do partido?

Não falhou nada na estratégia do partido. Braga é um distrito muito peculiar, muito conservador, há, sobretudo, nos concelhos do interior tradições de direita. No entanto, o Bloco obteve excelentes resultados a nível de concelhos, como por exemplo em Famalicão, onde ficou à frente da CDU. Ficamos mesmo em muitas freguesias famalicenses em terceiro lugar. Agora temos de admitir que não temos os meios, sobretudo, financeiros que têm outros partidos. A campanha do Bloco foi um trabalho de militância.

A maioria absoluta do PS e de José Sócrates era esperada ou constituiu uma surpresa?

Se para nós não era muito desejada, também não foi de todo uma surpresa. Haviam muitos sinais nesse sentido.

Isso deve-se ao mérito do PS e do seu líder ou à falta de merecimento por parte do PSD?

José Sócrates foi sempre muito evasivo durante a campanha, nunca se comprometeu muito com propostas concretas. Agora estes resultados foram muito por demérito desta direita anedótica.

Destes resultados podem-se fazer algumas leituras em termos autárquicos ou é abusivo estabelecer qualquer termo de comparação?

A única comparação, é que é, o mesmo povo que vota. Agora são eleições diferentes, com particularidades diferentes. São outros trabalhos a serem julgados, outras propostas a serem avaliadas e outros protagonistas em questão. No entanto, estes resultados provam que o poder não é uma quinta da qual certas pessoas se julgam donos, o povo pode querer mudanças.

In Entre Vilas